A tradição já não é o que era... O Natal já não tem o mesmo cheiro, o mesmo sabor, os mesmos sentimentos..
Lembro-me do Natal desde que era pequena e sempre se foi modificando ao longo dos anos, como tudo na vida, no entanto ultimamente tem sido muito pior...
Quando eu era pequena, não havia dinheiro para prendas de Natal, então como o meu pai era funcionário dos CTT e havia sempre uma grande festa de Natal para as crianças, filhos dos trabalhadores, no Coliseu, onde para além do espectáculo, dávam umas prendas baratas mesmo, mas eram prendas, eram essas que os meus pais colocavam mais uma vez no sapatinho na chaminé... Sim porque naquele tempo não era a meia de Natal, era o sapatinho que nós colocávamos na chaminé... Esperava como louca pela meia-noite e quando me diziam que podia ir ver a prenda a minha desilusaão era imensa porque tinha a mesma prenda. Lembro-me de um conjunto de tijelas vermelhas que circularam de ano para ano... Mas um dia, eu que andava sempre a ver se descobria alguma coisa para mim, descobri debaixo do guarda-vestidos, embrulhado em papel pardo, uma coisa comprida e com uma parte redonda... Estava lá a minha avó e eu gritava: Vó é uma boneca, vó.... nunca tinha tido nada assim tão grande na vida... Nem dormi mais... Que espanto quando vi aquela boneca de plástico, mas única... Agarrei-me a ela e ainda hoje ao fim de 51 anos a tenho comigo(digo 51 anos porque eu tinha 4 anos quando ma deram). Até estou a pensar em a doar ao Museu dos brinquedos. É o meu cabeçudo.
Hoje em dia os presentes não têm o mesmo significado para ninguém. Acha-se um direito, um frete, uma despesa inútil, uma chatice...
E o cheiro do Natal perde-se, por aqueles que mais amamos.
Quando entrei para o secundário, eu era pobre, muito pobre. O funcionalismo publico não deixava os meus pais com muito dinheiro e então nem havia dinheiro para eu almoçar, quanto mais para aqueles bolos deliciosos que eu via as minhas colegas comerem e eu via... Deviam ser deliciosos... Para almoçar, ajudava as senhoras da cantina para me darem algo para comer... Era uma tristeza... Em trabalhos manuais nunca podia ficar com nada porque os meus pais não tinham dinheiro para pagar os materias... Enfim... No Natal as minhas colegas fizeram-me a maior surpresa da minha vida... Ofereceram-me uma boneca com cabelo!!!!! Que coisa mais linda! Foram extraordinárias! Todas! Foi o natal mais bonito que eu tive.
Quando comecei a ter filhos a minha vida também não era fácil. Esperava muitas vezes que o pai deles troxesse dinheiro para casa na véspera do dia 25 para ir comprar alguma coisa para eles. Mas sempre tiveram o que eu podia dar e com o passar dos tempos, comecei a trabalhar e comecei a dar tudo o que podia e eu nunca tinha tido. A primeira Barbie á minha Filha, o primeiro orgão ao Marco, que adorava tocar... E mais e mais...
O Natal era passado sempre na casa dos meus pais... O cheiro das filhoses de abóbora que a minha mãe fazia depois do jantar, era a espera para o abrir das prendas...
Depois vinha o pior... Uns anos era o meu pai outros o meu marido que bebiam e tinham sempre de embirrar com alguém... Era certo como eu estar a escrever tudo isto... Ou era com o meu Marco ou comigo... Um de nós levava sempre por tabela e atrás disso havia as inevitáveis dicussões e mal estar... paar além das tareias de que eu era vítima. A minha mãe morreu e os Natais começaram a ser na minha casa... Continuava a ser o mesmo... Era sempre um pesadelo e já nos perguntávamos qual ia beber mais ou com quem é que iam embirrar mais nessa noite... O meu marido morreu... E continuou o meu paizinho... Adoro e adorarei sempre o meu velhote, mas muitas lágrimas me fez cair... Por vezes iamos até Tomar a casa da minha irmã, onde se acalmava um pouquito mas, mas era quase sempre uns copitos a mais e o embirrar... até ir para a cama... As prendas eram sempre dinheiro. O mesmo para as 2 filhas e um pouco menos para os netos e genros. Aí eu ainda podia comprar o que queria para os filhos. O meu pai morreu e juntei-me com o Alberto. Agora os Natais são mais calmos, sem o stress com que sempre vivi. Mas o pior é o meu stress pela vida, por tudo que passei na vida, me leva muitas vezes a ser amarga e a dizer coisas que nem queria dizer. E por vezes comparo-me ao meu pai e fico triste porque não o queria fazer.
E o Natal já não é o mesmo... Os filhos não querem prendas querem dinheiro para poderem comprar o que querem... A neta habituou-se ao mesmo. Só posso comprar para o meu netinho e para a minha enteada. O Natal deixou de ser aquilo que eu sempre desejei ter, com amor, paz e muitas prenda. Porque no Natal se não houver prendas não é Natal... Mas prendas que não saibam o que são... Surpresas e o prazer de poder escolher algo para oferecer que nos dê prazer em comprar. E quando falo em comprar não falo da importância , do valor daquilo que se compra mas sim da atitude. Os presentes nao se medem pelo valor ms sim pelo amor com que são comprados. No tempo em que todos os meus mortos eram vivos, houveram fases boas e a arvore de natal era pouca para tantas prendas. A vida hoje não nos permite isso, mas de bom grado o faria novamente. Só para poder ver um sorriso nos meus filhos, nos meus netos e na restante família.
Hoje os doces compram-se não se fazem... Por isso o cheiro do Natal já não é o mesmo...
E a pouco e pouco alguém vai desaparecendo da fotografia de NATAL, até ao dia em vou ser eu a não estar presente...
Aí alguém irá escrever um pouco desta história, pensar na mãe e no pai e desejar tal como eu que eles aqui estivessem nesse dia...Apesar de tudo....
O Natal já não é o mesmo....
Papa do ponto casinha de abelhas de menina
-
Mais um passeio pela Net...Parabéns a quem o fez.
Técnica casinha de abelhas para vestidos
Hoje em dia não vejo tantos vestidinhos bordado com essa técnica...
Há 9 anos
Sem comentários:
Enviar um comentário