terça-feira, 7 de agosto de 2012

Brincar...

No meu tempo não haviam brinquedos como hoje em dia... eu brincava com uma caixa de botões da minha mãe, e com uma caixa de graxa, e um cordel, fiz uma balança. Os botões era o meu dinheiro, o meu tesouro... Ainda hoje depois dos meus pais terem falecido guardo essa caixa, com todas as lembranças que ela me proporciona. Naõ havia nada mas acreditem no meio desse nada eramos felizes. Tinha a festa do trabalho do meu pai em que davam umas tigelinhas, uns brinquedos pequenos. No Natal, a minha mãe embrulhava e dava-me os mesmos... Eramos pobres mas engraçado, juntávamo-nos todos, os que viviam no mesmo prédio ou perto e brincávamos. Uns dias na rua, outros na casa de um de nós e outros dias no jardim. E os nossos pais não andávam em pãnico por não saberem de nós... Não havia a informação que há hoje de violência, de violações e de pedófilos. nem sequer havia televisão... e hoje pudemos estar descansados com os nossos filhos na rua??? Nem pensar! Nem para o lado podemos olhar, sem nos passar pela cabeça que eles podem ser raptados, violados, desaparecerem... Que mudança neste mundo...

Miúdos...

Quando eu era miúda, esperava ansiosa pelo tempo das férias grandes. As férias eram um motivo enorme para eu poder ir para Aveiras de Cima brincar com os meus primos. Ficava lá os 3 meses inteiros, e vinha para Lisboa mesmo nas vésperas de ir para a escola. A minha avó vinha buscar-me e iamos de comboio até azambuja. Daí até Aveiras de cima, iamos a pé... que a vida táva cara e não ...
havia dinheiro para camionetas... mas tudo bem. E chegava extenuada a casa da avó... para de seguida ir a correr até aos meus primos. O Tonico já tinha a fisga preparada e de ano para ano eu era muito melhor atiradora... Acertava nas lâmpadas todas dos candeieros em redor... Eramos um grupo de 4 ou 5, que começava a saber o que era o verão quando nos reuniamos todos e iamos para o nosso castelo um moinho abandonado. Limpavamos tudo e depois era o ataque à fruta da avó. Apanhávamos melancias, melões e maças e tinhamos o nosso comer pronto... Ameixeiras, figueiras, pessegueiros, nada escapava. Uau que brincadeiras incríveis... Rebolávamos na areia, brincávamos nas poças, colhiamos flores, e à noite, mais sujos do que limpos iamo-nos deitar com a cabeça cheia de sonhos... Eramos tão felizes... E tão pouco bastava para um verão cheio de aventuras... Hoje? os miúdos querem o Algarve, as férias no hotel, e se possível com consolas para poderem jogar...

Matilde, 7 anos....

Quando os meus filhos eram pequenos eu ia para a praia de Cascais com eles, mais especificamente para a praia da Rainha. Era uma praia pequena com água límpida e transparente (infelizmente hoje em dia não é assim) e eu via-os de um lado ao outro. Não me conseguia deitar na toalha para não os perder de vista, ou se me deitava era sempre virada para eles, mas nunca dormia nem por um se...
gundo. No Dominho estive na praia de Oeiras. Das 3 ás 7 e picos da tarde. Conheci a Matilde, 7 anos, da Graça. Menina linda, franzina, lourinha, com um sorriso aberto. A Matilde veio para o pé de nós, que estávamos a escavar na areia com a minha enteada. Posso brincar? Claro! E do brincar ao falar ela ficou ali connnosco, toda a tarde. Ia para a água, brincava e saltava... Alegre. Perguntámos pela mãe, porque ela andáva na água como uma sereia e sózinha. A mãe? Estava deitada por baixo do sítio onde estavam os nadadores salvadores. Porque não tinham trazido chapéu... A dita senhora esteve sempre deitada de barriga para baixo, ao sol, e nunca, nunca se virou para ver a filha. Nunca! Nós fartámo-nos de olhar e comentámos. Que simples era levar uma criança daquelas. Sózinha sem ninguém a olhar para ela. Lembrei-me da Maddie! e de tantas crianças desaparecidas! Com palavras falsas, enganadoras, alguém a podia levar! Podia ficar na água do mar... E sózinha! Sempre sózinha! Ao fim do dia quando me vinha embora chegou o pai. Foi ter com ela. E a Matilde lá foi, depois da tarde toda sózinha. Na Segunda feira fomos novamente um pouco à tarde. Estávamos a limpar-nos quando vi a Matilde com o pai. Ia embora e a despedir-se de mais uma família. Com quem provavelmente passou o dia... Chamei por ela mas ela não ouviu. Ia a saltitar. Pequena, franzina e com olhos cor de amêndoa... Que Deus guarde estas Matildes inocentes, de predadores horrendos e que Deus Dê um pouco de descernimento a mães, que em vez de olharem pelos filhos, receando que algo aconteça deixam mesmo acontecer e depois de se queixam de que não sabem porquê e como aconteceu... Para ti Matilde, da Graça, 7 anos de idade, um aperto muito, muito grande do fundo do coração....

O meu netinho...

Ao ver aquela coisinha tão pequenina nos meus braços, toda enrrugadinha e com a roupa toda enrolada por ser grande demais, senti um aperto no coração e uma alegria imensa de o ter assim juntinho a mim. Aquele cheiro a bebé e o ...
apertar da minha mão com os dedinhos tão pequenos fez-me lembrar quendo tive os meus filhos. Mas desta vez eu estava a ser mãe 2 vezes. Era o bebé da minha filhota o meu netinho lindo que eu tinha ali. Linda era aquela sensação que eu tinha. Emocionada, sentida. O amor com ele foi incondicional. Um aperto no coração cada vez que o não vejo. Sinto-me doente quando ele não está. Doente de saudades do chamar pela avó Fanta... Do abraçinho dele ao chegar a minha casa. Dos beijinhos doces que ele me dá. E isto são as saudades que sinto por ele estar de férias. Meu amor lindo! Amo-te!

Paris...

Sózinha na penumbra do meu quarto, embrulhava-me nos cobertores e escutava as canções que eu mais gostava no gira-discos do quarto... Ia olhando para a janela, no 8º andar, com medo dos Dráculas... Olhava para os telhados de Paris e via a escuridão sobreposta de sombras que me pareciam inimigos e onde o luar da noite projectava os meus pensamentos de seres que só existiam em filmes, mas que eu com os meus 16 anos via como seres reais... E adormecia só depois da 1 da manhã, com um medo de ser acordada por alguma dentada no pescoço... Até o despertador tocar às 5 da manhã para ir trabalhar... Isto foi Paris...

Livros...

Um livro não é para estar guardado numa estante ou prateleira. É para ser lido, para correr muitas mãos, porque cada pessoa o interpreta e forma diferente. Não me importo de emprestar livros mas adoro quando mo devolvem tal como eu o emprestei. Mais uma vez lido, mas em condições, tal como eu faço com os que me emprestam. Raras excepções neste caso, porque para mim um livro é uma lição de vida, uma fuga deste mundo, uma vivência partilhada e como tal eu quero-o para mim. Quando eu era miúda adorava ler. Lia tudo o que aparecia nas mãos, porque não havia dinheiro para comprar livros. Lia livros velhos que tinham pertencido ao meu pai e ao pai dele. E encantava-me... Lia livros que colegas me davam, a colecção dos 5 por exemplo. E vivia aquelas aventuras. Li Enid Blyton. Li Hans Cristian Anderson. Li os irmãos Grimm. Tantos livros que me faziam tirar do meu mundo pobre e me faziam correr mundo através de capítulos cheios de imaginação. Chegou a altura das revistas de novelas, Corin Tellado, etc... Ai estas revistas fizeram-me sonhar com o amor... Depois veio a Danielle Stelle, Patricia Mc Donald, Agatha Christie, Harold Robbins, Georges Simenon, Sidney Sheldon, e outros tantos. Sigo com intensidade a saga de As Crônicas de Gelo e Fogo e aguardo com o coração nas mãos o seguimento e o aparecer de um novo Livro. Sigo de Sandra Carvalho a Saga das Pedras Mágicas e agora estou a ler o ultimo livro de Christopher Paolini a Herança, que pertence ao Ciclo da Herança. o meu marido pergunta-me se não me confundo com tantas personagens. Mas não. Cada um tem o seu mundo e o seu mistério. Leiam e vão ver como conseguem saltar deste Univeso pobre para outro mais enriquecido e com um brilho maior.